FISHEYE, Kamile Girão



Sinopse:
“Meus olhos são como canudos, Mick, só me permitem enxergar por um buraquinho. E com o tempo, a abertura deles vai diminuir muito, até que a fenda deixe de existir.”

Aos dezesseis anos, Ravena Sombra descobre que não é perfeita: após um acidente numa festa, ela é diagnosticada com retinose pigmentar, uma doença sem cura que degenerará a sua visão gradativamente.
Com o mundo pelo avesso, a adolescente inicia sua jornada em busca do amadurecimento, numa narrativa intimista à procura de se entender e de se descobrir. Ao longo do caminho, contará com a ajuda do melhor amigo de infância, da sua implicante e carismática irmã, de uma velha polaroid com nome de música dos Beatles e de um violinista cuja pele é marcada por cicatrizes e os olhos de um azul infinito como o céu.
No meio de tanto caos, Ravena vai entender que crescer não é um processo fácil e que sim há beleza em enxergar o mundo do seu jeito peculiar e especial.



Já sou leitora da Kamile Girão desde a época de Yume (sdds Adrien) e tudo que posso dizer é que a escrita da autora amadureceu, mas ainda tem aquele quê que é apenas dela. É difícil encontrar em autores tão novos assim um estilo, uma voz, que o identifique de longe; aquela linguagem que te faça ler uma linha e já saber exatamente quem é o escritor, temos isso com Stephen King ou Clarice Lispector, obras dos quais passamos a falar que lemos o autor em si e não mais sua obra. “Estou lendo mais um do King”, “estou lendo Clarice” e, incrivelmente, temos isso com a Kamile. Acredito – e torço muito – para que, daqui a alguns anos, já estejamos falando que estamos lendo “Girão”.
Colocando a tietagem de lado e falando de Fisheye, acho que esse é aquele livro que serve apenas para te surpreender. Você pega as primeiras páginas e encontra uma garota daquelas bem clichês: a superbonita aluna mais popular da escola, com dinheiro e todos aos seus pés.
Mas Fisheye não tem nada, nada e nada de clichê.
E você vai descobrir isso já no final do primeiro capítulo.
O crescimento de Ravena no decorrer da obra é alarmante, assim como a condição de sua doença. Parece que quanto mais doente ela fica, mais forte e madura ela fica. Parece, não. É isso mesmo.
Não é um romance do tipo romântico, mas a gente se vê torcendo para Daniel e Ravena desenvolverem alguma coisa entre eles. Falando em Daniel – que delicadeza de personagem. É meio estranho falar assim de um personagem masculino e ainda mais um possível par romântico da mocinha, né? Mas é o que temos aqui. Todo o drama da vida de Daniel – e acredite, não é pouco – é tratado com suavidade e o melhor de tudo é que ele não é movido pelo drama nem pelas tragédias dele e ensina Ravena a fazer isso também <3

“Você não é sua doença, então não deixe e não sinta pena de si mesma. Tanto eu quanto você somos apenas duas pessoas diferentes à nossa maneira e isso não é motivo para receber piedade de ninguém” – p.178.

Uma das coisas que eu mais gostei no livro de Kamile Girão é a atualidade dele, sabe? Redes sociais, vídeos, pesquisas na internet, sms e muuuuuita cultura pop como Star Wars, Beatles (eu poderia muito bem dizer que foi escrito por mim, já que SW e Beatles são minhas paixõezinhas do coração <3).
Fisheye é muito mais que uma capa bonita – e põe bonita nisso – ele é doce e vem para quebrar um preconceito muito grande: da gente com a gente mesmo. Nós somos mais que nossas doenças, mais que um status na vida escolar, mais que uma vaga em um curso disputadíssimo em uma federal e muito mais do que nossos pais nos julgam ser.
É maravilhoso. Leiam e indiquem.

PS: e ainda te faz ter vontade de comprar uma polaroid e sair por aí tirando muita foto!



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